[UMA EXPERIÊNCIA TESONA NAS ESTRADAS LONGAS]

Fui de ônibus. Na minha poltrona monstruosamente confortável. Inocentes oito horas de sono. Sem perturbações durante meus olhos em desligamento. De noite para dia.  Silêncio rico – ao menos para mim – apesar das rodas acelerando. Luzes azuis, tímidas, não incomodavam os passageiros envolvidos na realidade onírica. A tristeza era não ter como ler livros porque a lampadinha individual não colaborava da forma eficiente. Apenas vaga-lume seria superior a lampadinhas individuais pela intensidade cintilante. Por conta do ar condicionado eu estava usando minha blusa Adidas, na verdade mal usada por ser leve e ideal somente para atividades físicas, porém me sentia aquecido no bom sentido. 18 horas de viagem. De pés descalços, meus tênis Converse temporariamente abandonados sobre a minha mochila – imunda desde que comprei -, deixava-me ser tomado por um relaxo cósmico, uma sensação inexplicável. Ganhei uma comida decentinha. Uma miga com presunto e queijo, uma caixinha de suco de laranja e um pacotinho de biscoitos. que comida rica como pessoas que falam castelhano dizem, não é? Coisas típicas do lugar fora do Brasil. Fui uma vez ao banheiro dentro do ônibus para esvaziar minha bexiga de Wolverine. Faltavam umas quatro horas para chegar ao meu destino. Como eu estava sem suprimentos acadêmicos e literários pra ler, fui obrigado a apreciar paisagens passando por mim. E inclusive a traçar pensamentos, letras, letras e letras. Algo que não pôde ser feito oralmente. Se a comunicação fosse por telepatia eu seria o mais feliz do nosso sistema solar. Quatro horas de produção de divagações. Para o meu destino, havia apenas quatro personas além de mim. Quando nosso ônibus desembarcou em uma rodoviária, provavelmente a penúltima, eu joguei uma pergunta em um dos passageiros que estava, pelo corredor, ao meu lado: a próxima parada será aonde estamos indo? Sí, ele afirmou. Chegamos por lá em uma hora e meia, ele calculou. Meu destino é uma cidade repleta de cães-salsicha e literatura, basta jogar isso no bom Google. Dirigir coisa de quatro rodas por estradas e dar paradas em restaurantes e hotéis excêntricos seria mais legal, eu pensei. Melhor do que ficar parado por aqui. Mãos segurando o volante por horas contínuas colocaria a saúde em risco, talvez, eu raciocinei. Já na zona urbana do meu destino. Um finalmente feliz para mim. O calor do meu destino é irmão gêmeo da minha cidade. só falta examinar o DNA deles. ah: meu destino tem muitos hotéis com banheira. Levei minha boa hermes baby ultra laranja para pintar ficções – com pouco tempero de fatos extraído de meu corpo e minha mente caso necessário. Carimbo um portanto: não sou daqueles que não sabem produzir literatura, ou seja, que fazem só relatos baratos sem tesão literário/poético. Já instalado em um hotel eu, obviamente, com banheira, num apartamento bem espaçoso, integrando a cozinha, uma cama casal king, uma mesa de escritório e uma TV LED 39’. Comecei a escrever um conto na minha máquina de escrever, mas tive de parar porque o diamante humano que estava deitado na cama queria minha atenção. Acatei o pedido da minha musa com carinho. Pronto, duas taças cheias de vinho. O nome da empresa pela qual eu tinha viajado de ônibus é, uma charada para vocês, utilidade para arco em casamento com uma palavra do inglês referente a um meio de transporte.

A estrada

    A estrada é uma coisa infinita significativamente conforme muitas pessoas acreditam. Ela nos abre várias linhas, bem parecidas com as do mundo do Pac-Man, um jogo marcante dos anos 80. Nem todas são seguras, o que resta a prevenir a morte é a cabeça do condutor em referência à consciência. Para mochileiros a estrada é um ponto atrativo em razão da assimilação de culturas distritais além das paradas gastronômicas (que preparam comidas caseiras, aquelas façanhas da zona rural). Os sinônimos de estrada são prazer, estresse, aventura, sofrimento, violência e amor. É equivocado se dizer que a estrada é cansativa e tampouco agradável, uma questão que pode ser definida de acordo com o olhar do viajante. Os termos mais constantes em estradas são cansaço e estresse quando o assunto é trabalho, cujo fato é inegável. O mochileiro, diferente do trabalhador, tem a liberdade de viajar pra onde quiser com o intuito de buscar novos conhecimentos regionais e colher dados para o seu exercício acadêmico.

    No dia 16 de outubro, um dia excessivamente ensolarado, o rapaz caminha a quilômetros a fim de conseguir carona – conduzindo o seu braço pra cima como sinal de carona. Com a mochila nas costas, de roupas leves e tênis All Star, uma marca que engloba frequentemente, o rapaz é mestrando em História da Literatura – está escrevendo uma dissertação, o título é as estradas são irmãs da Literatura. Finalmente o carro para ao lado dele, indicando que atende ao pedido do rapaz:

– Ô garoto, pra onde você vai? – Perguntou o motorista com a aparência de empresário por causa do que está vestido (usa o terno).

– Pra qualquer lugar. Digamos, depende de você. – Replicou o jovem.

– Vou para a Colônia Maciel para visitar a minha mãe. – Esclareceu o motorista.

– Maravilha! Dá pra eu descer antes de você ir pra o destino decidido. – Aceitou o jovem, que estava prestes a entrar no carro.

Hoje está muito quente, não é? Bom, o que você faz? – Começou a puxar um papo o motorista ao passo que dirige o carro em direção à Colônia Maciel.

É verdade. Sou mestrando em História da Literatura. – Respondeu timidamente o jovem.

Que bacana rapaz! Você tem futuro! Eu sou um empresário e larguei os estudos quando eu estava prestes a concluir o Ensino Médio. Mas mesmo assim estou bem financeiramente. – Explicou o motorista ao jovem.

Sei como é. O problema é que eu não sei parar de estudar. Vivo andando pelas estradas porque gosto de explorar tais coisas exóticas. – Compartilhou o jovem com o motorista.

Estamos perto da Colônia Maciel e pode me dizer onde vai descer, ok? – Alertou o motorista.

Pode ser aquele lugar que tem matos – Apontou para o lugar detalhado o jovem.

  Após trocarem os cumprimentos, o jovem caminha até o Templo das Águas onde ele vai passar pelo menos uma semana para terminar a sua dissertação. Ele decide manter o título da dissertação, pois entende que a estrada lhe traz inúmeras inspirações.

UM HOMEM SEM ROSTO

Cheguei! – Ao penetrar na saída ao desembarque, o jovem abraçou a sua namorada. E a sua bagagem? –Perguntou a sua namorada ao reparar que ele não trouxe. Minha mala? Bem, eu esqueci em casa a minha mala. – Replicou o jovem. Como esqueceu? – Estranhou a namorada. Bem, eu não consegui pegar a tempo, pois eu estava atrasadíssimo para pegar o meu voo marcado. Mas darei um jeito. “Darei um jeito”, o que quer dizer? – Continuou sem entender a namorada. Vou comprar umas roupas aqui no Rio. – Respondeu o jovem, aparentemente tranquilo o quanto isso. Mas como estamos no meio do mau tempo. Assim não temos como nos deslocar para outro ao outro. – Explicou a namorada. Ah, lembrei. Também não trouxe a minha escova de dente – Lembrou o jovem. Essa não! Mais um problema para nós! – A namorada entrou em pânico. A boa parte das ruas, ou seja, dos acessos está interditada devido à chuva. O jeito é que a gente vai direto para a minha casa e você vai tomar um bom banho. – Sugeriu a namorada impaciente. Eu não trouxe meu shampoo nem meu sabonete liquído. – Lembrou o jovem. Ac.ho que você deve voltar à sua cidade. – Sugeriu a namorada, já sem paciência e desgastada com a relação com ele. Como assim? – o jovem ficou surpreso. Vou sair dessa relação. – Decidiu a namorada. Não, não faça isso. Eu estou sem grana. – Implorou o jovem que estava ajoelhado. A namorada saiu do redor dele e despareceu como se um fantasma sumisse repentinamente. O jovem via todas as partes de onde estivera desesperado: Estou sozinho! Nenhuma pessoa passa aqui! Nem uma mosca! Foi ver da janela: Os aviões sumiram! Apareceu de repente um homem sem rosto ao seu lado: siga-me, por favor – suplicou o misterioso ao jovem. O jovem não tinha o que fazer e decidiu seguir o homem sem rosto. O misterioso era bem alto e branco. Usava um casaco, sobretudo, um certo tipo do filme Matrix. A sua parte física lembrava o Hellboy, o gigante avermelhado. Foram até o portão de saída. Por favor, entre. – Pediu o homem. Não pensou duas vezes e entrou. Foi devorado por vários insetos gigantes. Não! – O jovem acordou suado. Ah, foi um pesadelo. – O jovem se aliviou. Acho que ando lendo muito livro de ficção científica. – Admitiu o jovem.